Cidade de 15 minutos: utopia ou tendência real do urbanismo moderno?
Cidades de 15 minutos prometem mais qualidade de vida, menos trânsito e bairros completos. Entenda como funcionam, onde existem e qual é o impacto delas no mercado imobiliário.
O modelo exige uma transformação profunda que vai além de criar ciclovias ou melhorar o transporte público. Trata-se de repensar a própria essência do viver urbano, priorizando pessoas sobre veículos, proximidade sobre velocidade, comunidade sobre individualismo .
O que é uma cidade de 15 minutos?
A cidade de 15 minutos se baseia no princípio de que todos os serviços essenciais devem estar acessíveis em até 15 minutos a pé, de bicicleta ou por transporte público. O conceito, formulado em 2016 pelo professor Carlos Moreno (Sorbonne, Paris), propõe reordenar urbanisticamente os espaços para colocar qualidade de vida no centro do planejamento urbano. Valoriza bairros de uso misto e crono‑urbanismo, que considera proximidade e tempo, não apenas distância física.
Quais são os benefícios de viver em uma cidade de 15 minutos?
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Redução do tempo com deslocamentos, liberando mais tempo para lazer, família e descanso.
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Melhora na saúde física e mental: caminhar ou pedalar combate o sedentarismo e reduz o estresse, especialmente com mais áreas verdes.
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Impacto ambiental positivo pela redução das emissões de carbono e poluição do ar.
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Estímulo ao comércio local, com bairros mais resilientes e menos dependentes de crises como a da COVID‑19 Exame.
Cidades de 15 minutos pelo mundo
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Paris: pioneira desde 2016, sob liderança de Anne Hidalgo. Transformou vias para pedestres e ciclistas, criou 1.400 km de ciclovias e transformou margens do Sena em parques lineares.
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Barcelona: projeto dos “superblocks” — quarteirões com tráfego limitado e espaço de convivência para moradores .
São Paulo é uma cidade de 15 minutos?
Segundo análise do Caos Planejado com dados do Censo 2022:
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Apenas 15% dos paulistanos têm acesso a parques urbanos em até 15 minutos a pé; esse indicador sobe a 87% para bicicletas.
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O transporte metroviário atende apenas 23% dos moradores dentro de uma caminhada de 15 minutos. A desigualdade urbana e a concentração de empregos no centro dificultam a aplicação do conceito em toda a cidade .
A desigualdade social e regional é a maior barreira. Enquanto os centros urbanos concentram serviços, periferias ficam longe da infraestrutura básica. Além disso, transformar cidades consolidadas requer altos investimentos em transporte, ciclovias, mobilidade ativa e planejamento urbano bem estruturado – o que nem sempre é possível em contextos de fragmentação urbana histórica como o das metrópoles brasileiras
Fonte: Revista Exame
